quinta-feira, 14 de maio de 2009

A mamãe do ano...

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O nascimento de minha netinha, Cíntia

A mamãe, Débora, e minha neta...
As duas são lindas!!!

Esse milagre da vida aconteceu dia 26 de abril deste ano, as 17:20.

Cíntia

Vejam só como é linda... Todas as avós têm o direito de ficarem bobas, eu não posso fugir à regra.
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Esta é minha netinha, a Cíntia. Nesta foto ela está com 16 dias.
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LETRAMENTO

Este trabalho tem por finalidade fazer uma discussão entre "variação lingüística e o ensino da língua materna" e "oralidade e letramento", de Luiz Antônio Marcuschi . Esses dois textos discutem os valores da língua falada e da língua escrita, como a escola deve abordar sobre o assunto. Será que uma se sobrepõe à outra? Qual delas tem mais valor? Ou será que uma e outra devem andar lado a lado?


 


 

TRAVAGLIA diz que a escola deve estar aberta à pluralidade dos discursos para que se desenvolva a competência comunicativa dos usuários da língua. Para ele, a sociedade não deve colocar as variedades lingüísticas dentro de escalas valorativas, o que existe são sujeitos de geografias diferentes e preconceitos intrínsecos na nossa sociedade sobre o uso da língua.

Uma vez que sabe desses preconceitos, a escola deve conscientizar-se de seu papel, usar a riqueza dessas práticas sociais, as variedades lingüísticas, em favor da interação, do fazer com que o aluno se sinta sujeito ativo e formador de uma sociedade. Pelo contrário, se a escola sobrepor o valor da escrita à fala, valorizando apenas a norma culta padrão, corre o risco de fazer com que alunos se sintam excluídos, desvalorizados dentro do processo ensino/aprendizagem, e por conseqüência, sujeitos que fazem parte de uma sociedade não tão valorizada, dando a impressão de que são uma classe marginalizada. Não há como moldar um sujeito assim como não há como moldar uma língua, os dois vivem e necessitam de adaptações dentro do papel que exercem.

Como fala MARCUSCHI, para investigar "Oralidade e letramento" tem de se ter referência direta ao papel que elas exercem na civilização contemporânea, assim como para "observar satisfatoriamente as semelhanças e diferenças entre fala e escrita" (p.15) deve-se "considerar a distribuição de seus usos na vida cotidiana"(p.15). Diz o autor que é difícil ou praticamente impossível relacionar "fala e escrita" centrando-se apenas no código. Para ele, "isto representa a construção de um novo objeto de análise e uma nova concepção de língua e de texto, agora vistos como um conjunto de práticas sociais".

Em "A variação lingüística e o ensino da língua materna", baseado em estudos do quadro de Halliday, McIntosh e Strevens (1974, in TRAVAGLIA)), este diz que

A língua escrita constitui um sistema à parte, com características próprias que marcam como um estilo diferente da língua falada, de tal modo que alguns autores acham que a dificuldade que os alunos têm para escrever não advém do desconhecimento da norma culta ou padrão, mas antes do desconhecimento dessas características próprias do escrito (cf. Perini, 1980). (p.51-52)


 

MARCUSCHI, sobre as praticas de oralidade e letramento, escreve:

"... já não se podem observar satisfatoriamente as semelhanças e diferenças entre fala e escrita (o contraponto formal das duas práticas acima nomeadas) sem considerar a distribuição de seus usos na vida cotidiana. Assim, fica difícil, se não impossível, o tratamento das relações entre estas últimas, centrando-se exclusivamente no código". (2001, pág. 15)

...uma vez adotada a posição de que lidamos com práticas de letramentos e oralidade, será fundamental considerar que as línguas se fundam em usos e não o contrário. Assim, não serão primeiramente as regras da língua nem a morfologia os merecedores de nossa atenção, mas os usos da língua, pois o que determina a variação lingüística em todas as suas manifestações são os usos que fazemos da língua.(2001, p. 16)

A escrita, segundo MARCUSCHI, é um "bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia" (2001, p.16), essencial à sobrevivência no mundo moderno, o que a levou a um "status mais alto, chegando a simbolizar educação, desenvolvimento e poder".

A fala varia por necessidades e aspectos diversos, tornando-se basicamente impossível registrá-la e talvez por pelo motivo de a escrita sobreviver através de registros, e na sociedade ter-se criado o mito de que vale o que está escrito, é que há a sobreposição desta sobre aquela. A oralidade faz uma definição do homem como um ser falante e não um ser que escreve. O letramento faz do homem um ser que lê o mundo à sua volta, um ser que necessita de conhecimentos para interpretar as complexidades do dia-a-dia, e para tal é preciso saber expressar-se.


 


 

Vejo que uma não se sobrepõe à outra, são atividades interativas e complementares no contexto das práticas


 


 

Seguindo estudos do quadro de diz ser difícil "descrever de forma adequada e simples os vários planos de variação lingüística, bem como as inúmeras superposições que acontecem entre eles e que de certa forma tornam qualquer classificação mais ou menos arbitrária". (p. 42)

As variedades da língua, segundo .................. dividem-se em dois tipos, os dialetos ou estilos (que ocorrem em função do emissor) e os registros (variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, dependendo do receptor, da mensagem e da situação).

Na variedade dialetal, o autor classifica seis dimensões que são caracterizadas conforme a região do falante, conforme a classe social a que pertence, de acordo com a variação da idade, do sexo, depende do a variação histórica ( que permanece no tempo por meio de registros) e de acordo com a função que exerce o falante desempenha.


 

Quanto às variações de registro para Halliday, McIntosh e Strevens (in .....p.51) são classificadas em grau de formalismo, entendida como um maior cuidado e apuro no uso dos recursos da língua "e também como uma maior variedade de recursos utilizados, aproximando-se cada vez mais da língua padrão e culta em seus usos mais 'sofisticados'" enquanto a variação de modo é entendida como "a língua falada em contraposição à língua escrita". Para eles


 

Já a terceira e última série de dimensões de registro, a sintonia, caracteriza-se pelo ajustamento que o falante faz na estruturação de seus textos "com base nas informações que tem sobre o ouvinte". (p.56)


 


 

Qual a dimensão social que o professor pode identificar com relação à variação lingüística e o ensino da Língua Materna? Quais as diferenças e semelhanças que existem entre a fala e a escrita? Que preconceitos podemos observar?

    Segundo TRAVAGLIA (1997, pág.41), "para desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua é preciso abrir a escola à pluralidade dos discursos"

    Sabe-se, hoje, que, embora tenhamos conhecimento das variedades lingüísticas existentes em nosso país – face à sua geografia continental – temos, embora de maneira mais sutil, preconceitos históricos os quais valoram os sujeitos segundo a sua maneira de falar e/ou escrever. Instituímos esses valores através das características varietais, como certos ou errados, aceitáveis ou não, pitorescos, cômicos, etc. Características estas, que implicam, até, em situações de exclusão social desses falantes, enquanto os "tachamos" discriminadamente de "burros" (grifo meu), que falam errado, que escrevem de maneira errada.

    
 


 

    Podemos comparar a classificação acima com a de MARCUSCHI (2001, pág. 16), que diz:


 

"... não serão primeiramente as regras da língua nem a morfologia os merecedores de nossa atenção, mas os usos da língua, pois o que determina a variação lingüística em todas as suas manifestações são os usos que fazemos da língua. São as formas que se adéquam aos usos e não o inverso".


 


 

    No contexto das variedades lingüísticas, seja no âmbito dialetal ou de registros, há que se considerar a oralidade e o letramento enquanto práticas sociais.

    Considerando o processo de globalização pelo qual passamos atualmente, o letramento, ou seja, dentro da prática da escrita, tornou-se elemento essencial, embora um tanto quanto "cruel" (grifo meu), como ferramenta de sobrevivência para fazer frente a essa globalização. Como nos diz MARCUSCHI (2002, pág. 16), "... se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia"...

    A oralidade, no entanto, sob o ponto de vista histórico-humano define o homem como um ser que fala, e não o homem que escreve. Isto não quer dizer que a oralidade seja mais importante do que a escrita e que a escrita é derivada e a fala é primária. Por que essa reflexão? Porque há momentos em que não podemos reproduzir lexicalmente alguns fenômenos da oralidade, como por exemplo, prosódia, gestos, movimentos corporais. O contrário implica no fato de não podermos reproduzir fenômenos da escrita, tais como tamanho de letras, tipo de letras, cores, etc. Porém, ambas nos permitem construir textos coesos e coerentes, dentro de suas características próprias; sejam elaborar raciocínios abstratos, exposições formais e informais.

    É certo que a oralidade teve primazia sobre a escrita, porque o ser humano, em sua gênese, precisou aprender a falar para poder se comunicar com seu semelhante. No decorrer de seu processo evolutivo, devido ao acúmulo de informações a que foi obrigado armazenar em seu cérebro, teve que criar códigos para que esses dados armazenados perdurassem.

    Entretanto, essa primazia da oralidade sobre a escrita, mantém-se apenas no aspecto cronológico. A escrita, porém, considerando a contextualidade dentro de determinada sociedade, impõem-se de forma violenta, adquirindo um valor social superior à oralidade. Como já foi dito anteriormente, tornou-se ferramenta de sobrevivência, principalmente nos dias atuais. Ela pode proporcionar inclusão social ou uma exclusão social dos sujeitos tido como "não letrados".

    Mas mesmo assim, a escrita, embora tardia em relação à oralidade, está inserida em todas as sociedades as quais ela penetrou, através de suas práticas sociais. Mesmo os analfabetos, em sociedades com escrita, estão influenciados ao que se convencionou chamar de letramento. Este letramento não significa apenas aquisição de escrita, mas também letramento social, criado à margem da escola e que não deve ser discriminada por isso. Por exemplo, um analfabeto, ao visualizar uma determinada propaganda de um determinado produto muito conhecido, sabe que aquele produto é "x", mesmo que não saiba escrever. Ele até distingue as letras, porém de forma visual, seja através de cores, de tamanhos, ou ainda através de sons (músicas, jingles, etc.) característicos dessas propagandas.

    Letramento não significa simplesmente que determinado sujeito possui "letramento" somente no momento em que adquire a escrita. Ele pode ser social, pois mesmo que os sujeitos não escrevam, usam-no nas mais diversas manifestações sociais do seu cotidiano, de forma paralela com a oralidade. Por exemplo, no trabalho, na escola, no dia-a-dia, no âmbito familiar, nos seus momentos de lazer, etc. Existe uma relação intrínseca e inevitável entre escrita e contexto social através do letramento, pois daí surge novos gêneros textuais, formas de comunicação, terminologias e expressões típicas. Por exemplo: linguagens utilizadas na Internet em sítios de relacionamento; códigos específicos criados por pessoas à margem da lei, como forma de autodefesa; gírias utilizadas na maioria das vezes por jovens, e que ao longo do seu desenvolvimento etário vão desaparecendo; a linguagem mais "rebuscada" das pessoas mais idosas; linguagens entre gênero masculino e feminino ( ex: um homem não diz "Eu sou bela", e vice-versa), que podem gerar conotações de homossexualidade.

    Não devemos nos apegar apenas na norma culta, única, e considerada como a forma correta para todos os falantes da língua com a intenção de que se processe o discurso, ou seja, a intercomunicação. Essa assertiva é preconceituosa. Não existe o Português certo ou errado. Todas as formas são eficazes e importantes para que se processe essa comunicação. O que existe, no entanto, são modelos de comunicação que se polarizam: a sociedade ou grupo social prestigiado em oposição aos grupos sociais considerados desprestigiados.

    No Brasil, embora a língua falada pela maioria seja o Português, apresenta um altíssimo grau de diversidade, não só pela sua geografia continental, geradora de diferenças regionais, como também pela injustiça social que o coloca como o segundo país do mundo com a pior distribuição de renda.

    Essa variação, ou diversidade lingüística, segundo os PCN (parâmetros curriculares nacionais, 1998), diz que:


 

"A variação lingüística é constituída das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis (grifo meu). Ela sempre existiu e sempre existirá, independente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em "Língua Portuguesa" está se fazendo de uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade     escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre "o que se deve e o que não se deve falar e escrever", não se sustenta na análise empírica dos usos da língua".

    

    É importante salientar que, felizmente, essa realidade que hoje se nos apresenta – a constatação de que existe essa diversidade lingüística – é reconhecida pelos órgãos oficiais encarregados de planejar a educação no Brasil. Inferimos, entretanto, que é perfeitamente natural, até, exigir que o aluno aprenda a norma culta para que possa utilizá-la nas mais diversas situações sociais do seu cotidiano. Mas também absurdo, fazer com que este aluno aprenda apenas um unico dialeto, de determinada zona ou região.

    Por que essa dicotomia? Exemplificamos através da seguinte resposta: Os classificados como falantes da norma culta "exigem" que o sujeito considerado "iletrado", aprenda seu modo de falar para que possa ser incluído no seu meio circulante. E o considerado "iletrado" não faz a mínima exigência para que ocorra o contrário.

    


 

"Castilho (1998), lembra que, num país tão grande como o Brasil, onde se tem formado, por força do desenvolvimento, mais de um centro de prestígio cultural, será natural termos, principalmente na língua falada, mais de uma norma válida, mesmo que circunscrita à região a que corresponde e com diferenças sobretudo na fonética e no léxico".

    Verifica-se, portanto, preconceitos que definem as formas de prestígio, onde as escolas, em sua maioria, ocultam a relação entre língua e grupos sociais.

    Segundo TRAVAGLIA, (1997, pág. 66), "é preciso substituir definitivamente a idéia de uso certo ou errado, pela de uso adequado e inadequado. A língua, tanto falada como escrita, significa sociedade organizada. Não significa que a forma falada apresenta formas intrinsecamente negativas, e nem a forma escrita tem propriedades intrinsecamente privilegiadas.

    MARCUSCHI (2001, pág. 35) diz que "são modos de representação cognitiva e social que se revelam em práticas específicas.

    Finalmente, o que importa, é que "só existe língua se houver seres humanos que a falem".


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


 

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico, o que é, como se faz. SP: Edições Loyola, 1999;

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais, Língua Portuguesa, 5ª a 8ª séries, 1998, p. 59;

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da Fala para a Escrita. Atividades de Retextualização. São Paulo: Cortez, 2001;

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. Proposta para o ensino de Gramática no 1º e 2º graus. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1997, p. 41-66


 


 

MIA COUTO,

Análise do conto "A FOGUEIRA", de MIA COUTO

Mia Couto, em "A fogueira", assume um narrador que fala de duas personagens e suas vidas miseráveis. Pessoas donas de "nadas", ignorantes ao ponto de pensar poderem ser donos de seus destinos, de enganá-lo, escolhendo até mesmo a hora de suas mortes.

O autor faz um jogo com as palavras, brinca com elas, "As pernas sofriam o cansaço de duas vezes: dos caminhos idosos e dos tempos caminhados" (p. 371), lhes dá o sentido que quer, mostrando, ao contrário de seus protagonistas, que pelo menos um destino, o das palavras, alguém pode governar, mesmo que por um curto período. Com essa estratégia, Mia Couto arma uma teia na qual o leitor se deixa prender, não reluta, não contesta, não contraria, aceita um "invasor" de vidas, de consciências, momentaneamente, envolvendo-se na brincadeira , no jogo com as palavras proposto por ele.

Nessa obra, Mia Couto conta a vida de um casal de velhos, que vivem sozinhos, acompanhados de seus "nadas", sua miséria, "_Somos pobres, só temos nadas" (p.371). Ajeita as palavras para deleite de quem as possuir mais tarde, torna-se um narrador testemunho, imóvel, alguém que apenas observa, "O velho chegou mais perto e arrumou a sua magreza", (p. 371), não se dá o direito de interferir no destino de seus personagens, pelo menos aparentemente, porque é ele o criador, é ele quem dirige essas vidas, essa história, mas como já disse antes, quem sabe brincar com as palavras, faz delas o que quer. E Mia conseguiu. Com a ajuda delas ele tira de seus ombros a o peso da responsabilidade sobre aqueles destinos, o divide com seus leitores, ou ainda, livra-se totalmente dele aos olhos daqueles leigos à literatura.

O realismo mágico usado na obra nos leva a acreditar que trata-se de uma veracidade e não de uma ficção, " É melhor começar já a abrir a tua cova, mulher. A mulher comovida, sorriu: _Como és bom marido! Tive sorte no homem da minha vida"(p.371 – p. 372), "Não é mulher. Foi que dormi perto da fogueira" (p.373). Um jogo muito bem feito para conquistar leitores, seres humanos, que embarcam nessa viagem, a obra, na esperança de torná-la cada vez mais mágica, mais real, como se isso fosse possível. Magia e realidade fazem parte de mundos diferentes, opostos. Atraem-se, mas jamais fundirão-se no mesmo espaço, apenas trabalham juntas para o prazer dos humanos.

Com apenas duas personagens e palavras apenas, o autor consegue elaborar uma ficção rica, detalhada, envolvente. A pobreza das personagens torna-se riqueza nas mãos desse jogador, desse manipulador de palavras. Uma vida simples, com "nadas", nem a nomes tiveram direitos esses protagonistas, como nos é retratada, foi a melhor maneira encontrada pelo autor para falar sobre a pobreza de um país, Moçambique, sua terra natal, sua gente.

Mesmo narrada no pretérito, "A velha estava sentada [...](p.371); O velho ficou calado [...](p.372); [...] dedicou-se ao buraco, (p.372)" a ficção invade o presente toda vez que é lida. Chama atenção para os fatos. As personagens conversam e o leitor, através do narrador, as escuta e observa "Meu marido está diminuir, pensou ela. É uma sombra" (p.371)

A natureza é mágica, cada coisa tem seu valor. Cada coisa tem sua personificação. Assim é a vida para os africanos, sua visão sobre o mundo é de aceitação, de harmonia. E assim transmite o narrador a religiosidade desse povo através velho, quando narra que ele tinha preocupação em "covar" para a sua mulher, ou pressentira o que lhe aconteceria, sua própria morte, a renovação de sua vida, uma forma de libertação do sofrimento por que passara até o momento. O próprio título da história, "A fogueira", remete às crenças religiosas desse povo.

O narrador retrata a miséria da África através dos objetos do casal: "A velha estava sentada na esteira, [...] A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada" (p. 371). Uma visão realista dos fatos daquele lugar, daqueles que saíram em busca de vida melhor ou para lutar e não regressaram, "Pastoreava suas tristezas desde que os filhos mais novos foram na estrada sem regresso" (p.371)

As palavras simples, nem tão simplesmente acomodadas, tomam seu lugar no papel para gritar e denunciar pelos menos favorecidos. Gritam ao mundo inteiro que elas existem, que eles existem, que elas falam o que eles calam, que eles vivem o real alimentando-se do mágico, mas que só elas são capazes de viver nesses dois mundos diferentes e tão distantes, por isso detentoras de poder tão grande que jamais será alcançado pelo ser humano.


 


 

REFERÊNCIAS:

COUTO, Mia. A Fogueira. In Vozes Anoitecidas, Caminhos, Lisboa, 1987.

ANÁLISE DE POEMAS DE JOSÉ CRAVEIRINHA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA – JAGUARÃO

CURSO DE LETRAS – 6º semestre

Iracema Veleda Goulart

Um Homem Nunca Chora

José Craveirinha, in Babalaze das Hienas


 

Acreditava naquela história

do homem que nunca chora.

Eu julgava-me um homem.

Na adolescência

meus filmes de aventuras

punham-me muito longe de ser cobarde

na arrogante criancice do herói de ferro.

Agora tremo.

E agora choro.

Como um homem treme.

Como chora um homem!


 

Análise

Nos três primeiros versos o poeta fala sobre a inocência de ser uma criança, que acredita em heróis e tem uma visão destorcida do que é ser um homem e não sabe sobre sentimentos humanos.

Nos versos "Na adolescência/ meus filmes de aventura/ punham-me muito longe de ser cobarde/ na arrogante criancice do herói de ferro", o poeta retrata o adolescente no começo do entendimento da vida, do ser, que começa a questionar suas crenças.

O poeta, no presente, fala do como é ser um homem, é ter sentimentos, é chorar, é lutar. Craveirinha demonstra ter nervos, sentimentos. Um ser humano no pleno gozo da vida e suas aventuras e desventuras.

Pena

José Craveirinha, in Babalaze das Hienas

 
 

Zangado

acreditas no insulto

e chamas-me negro.

Mas não me chames negro.

Assim não te odeio.

Porque se me chamas negro

encolho os meus elásticos ombros

e com pena de ti sorrio.


 

O poeta deixa claro, neste poema que não se importa com a cor da pele. Diz um não ao racismo, comum em sua terra, nos versos "Zangado/ acreditas no insulto/ e chamas-me negro".

Parece estar caçoando dos racistas quando escreve "Porque se me chamas negro/ encolho os meus elásticos ombros/ e com pena de ti sorrio". Para ele, quem diferencia pessoas pela cor da pele age como uma criança que ainda acredita em heróis, e mesmo assim é capaz de diferenciar sorrisos e seus significados.